01 setembro 2014

Professor James Tobin



«“The most important decisions a scholar makes are what problems to work on,” Professor Tobin said. “Choosing them just by looking for gaps in the literature is often not very productive and at worst divorces the literature itself from problems that provide more important and productive lines of inquiry. The best economists have taken their subjects from the world around them."» in James Tobin (1918-2002)

01 julho 2014

Merit Ptah

"Merit Ptah (c. 2700 BCE), was possibly the first physician in the world and the first woman in science to be known by name. Her son, who was a High Priest, described her as "the Chief Physician". The IAU named the impact crater Merit Ptah on Venus after her." in Women in Science (probable image at blog page)

01 maio 2014

Expedition 40 - off the earth, for the earth

 
«The International Space Station Expedition 40 Crew Patch (see Expedition 40 (NASA) ) symbolizes the past, the present and the future of human space flight in the form of the reliable and proven Soyuz that has been flying since the 1960s, the International Space Station our present home in space and the Dragon spacecraft that has a bright future in the exploration of space. 

"The ISS is the culmination of an enormous effort by many countries partnering to produce a first-class orbiting laboratory, and its image represents the current state of space exploration. The ISS is immensely significant to us as our home away from home and our oasis in the sky," the Expedition 40 crew wrote. "A blend of legacy and future technologies is being used to create the next spacecrafts which will carry humans from our planet to destinations beyond. The sun on Earth's horizon represents the new achievements and technologies that will come about due to our continued effort in space exploration."» in Expedition 40 (spaceflight101)

01 abril 2014

25 de abril, 1974


((1974), "25 de Abril de 1974: crianças posam junto aos militares do MFA", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_115275 in Arquivo de Casa Comum, Fundação Mário Soares

01 março 2014

World Water Day, 22 March



Objectives of World Water Day in 2014

  • Raise awareness of the inter-linkages between water and energy
  • Contribute to a policy dialogue that focuses on the broad range of issues related to the nexus of water and energy
  • Demonstrate, through case studies, to decision makers in the energy sector and the water domain that integrated approaches and solutions to water-energy issues can achieve greater economic and social impacts
  • Identify policy formulation and capacity development issues in which the UN system, in particular UN-Water and UN-Energy, can offer significant contributions
  • Identify key stakeholders in the water-energy nexus and actively engaging them in further developing the water-energy linkages
  • Contribute as relevant to the post-2015 discussions in relation to the water-energy nexus.
 in UN World Water Day 2014 

01 fevereiro 2014

"A Tua-Minha Casa"


"De rosas era teu dia
o pessegueiro floria
os pássaros em revoada
vinham pousar no beiral
quando o sol iluminava
a roseira, o quintal.

Hoje, a tua-minha casa
nada tem de ti vazia
é roseira ressequida
raiz na rocha implantada
só pelo vento batida.

Saudade por não te ter
saudade por não te ver
só trazem águas salgadas
nos rios que correm nos montes
e brotam nas minhas fontes."


Maria Ivone Vairinho

01 janeiro 2014

European Year against Food Waste 2014



About 90 million tonnes of food is wasted annually in Europe - agricultural food waste and fish discards not included.

About a third of the food for human consumption is wasted globally - around 1.3 billion tons per year, according to FAO;

Food waste in industrialized countries is as high as in developing countries:

  • In developing countries, over 40% of food losses happen after harvest and during processing;
  • In industrialised countries, over 40% occurs at retail and consumer level.

Food is wasted throughout the whole food chain – from farmers to consumers – and for various reasons.

01 novembro 2013

"Minha pátria é a língua portuguesa."

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(http://www.cplp.org/)
(imagem em http://formacao.universiablogs.net/2010/12/17/bolsas-criar-lusofonia-promovem-lingua-portuguesa/)
 
"257
      O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa.

258
      O ter tocado nos pés de Cristo não é desculpa para defeitos de pontuação.
      Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso, responderei: o que é o seu fígado? é uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.
 
259
      Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
      Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
      Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez, numa selecta, o passo célebre de Vieira sobre o Rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo até ao fim, trémulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais — tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é — não — a saudade da infância, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
      Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
      Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."
 
(Livro do Desassossego, excertos 257-259,
Bernardo Soares / Fernando Pessoa in http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=5348) 

01 outubro 2013

2013 Nobel Prize

"The Nobel Prize in Physics 2013 was awarded jointly to François Englert and Peter W. Higgs "for the theoretical discovery of a mechanism that contributes to our understanding of the origin of mass of subatomic particles, and which recently was confirmed through the discovery of the predicted fundamental particle, by the ATLAS and CMS experiments at CERN's Large Hadron Collider"." (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/2013/)
"The Nobel Prize in Chemistry 2013 was awarded jointly to Martin Karplus, Michael Levitt and Arieh Warshel "for the development of multiscale models for complex chemical systems"." (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/2013/)
"The 2013 Nobel Prize honours three scientists who have solved the mystery of how the cell organizes its transport system. Each cell is a factory that produces and exports molecules. For instance, insulin is manufactured and released into the blood and signaling molecules called neurotransmitters are sent from one nerve cell to another. These molecules are transported around the cell in small packages called vesicles. The three Nobel Laureates have discovered the molecular principles that govern how this cargo is delivered to the right place at the right time in the cell." (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/2013/press.html)
"The Nobel Prize in Literature 2013 was awarded to Alice Munro "master of the contemporary short story"". (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/2013/)
"The Nobel Peace Prize 2013 was awarded to Organization for the Prohibition of Chemical Weapons "for its extensive efforts to eliminate chemical weapons". (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2013/)

"There is no way to predict the price of stocks and bonds over the next few days or weeks. But it is quite possible to foresee the broad course of these prices over longer periods, such as the next three to five years. These findings, which might seem both surprising and contradictory, were made and analyzed by this year’s Laureates, Eugene Fama, Lars Peter Hansen and Robert Shiller. (for their empirical analysis of asset prices)" (in http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/economic-sciences/laureates/2013/)
 

01 setembro 2013

Ave Maria...

..., gratia plena, Dominus tecum.
 Benedicta tu in mulieribus,
 et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
 Sancta Maria, Mater Dei,
 ora pro nobis peccatoribus,
 nunc et in hora mortis nostrae. Amen


(Poema da Maternidade de Fernanda de Castro, dito por Maria Ivone Vairinho em 1968. Na assistência, Fernanda de Castro ouvia-te com o encantamento com que eu e o pai te continuamos a ouvir, sempre que a brisa nos traz a tua voz... nos espaços suaves dos dias...)

01 agosto 2013

A Gaiola Dourada

A Gaiola Dourada (uma Mala de Cartão em formato refrescante), de Ruben Alves
http://www.agaioladourada.pt/
e para quem ainda não conhece o... Pedro Henrique: http://www.youtube.com/watch?v=SuZ9_9wvyt8

01 junho 2013

La prima donna

Elena Piscopia Cornaro (5 giugno, 1646 - 26 luglio, 1684), "è famosa per essere stata la prima donna a laurearsi nel mondo: conseguì la laurea in filosofia all’Università di Padova il 25 giugno, 1678."

01 maio 2013

The Schuman Declaration, 9 May 1950

On 9 May 1950, French Foreign Minister Robert Schuman first publicly
put forward the ideas that led to the European Union.
So 9 May is celebrated as the EU's birthday.

(in http://europa.eu/abc/12lessons/lesson_2/)

 
In 1972, the Council of Europe adopted Beethoven's "Ode to Joy" theme as its anthem (in http://europa.eu/about-eu/basic-information/symbols/anthem/index_en.htm): http://www.youtube.com/watch?v=Jo_-KoBiBG0


"World peace cannot be safeguarded without the making of creative efforts proportionate to the dangers which threaten it.
The contribution which an organized and living Europe can bring to civilization is indispensable to the maintenance of peaceful relations. In taking upon herself for more than 20 years the role of champion of a united Europe, France has always had as her essential aim the service of peace. A united Europe was not achieved and we had war.
Europe will not be made all at once, or according to a single plan. It will be built through concrete achievements which first create a de facto solidarity. The coming together of the nations of Europe requires the elimination of the age-old opposition of France and Germany. Any action taken must in the first place concern these two countries.
With this aim in view, the French Government proposes that action be taken immediately on one limited but decisive point.
It proposes that Franco-German production of coal and steel as a whole be placed under a common High Authority, within the framework of an organization open to the participation of the other countries of Europe. The pooling of coal and steel production should immediately provide for the setting up of common foundations for economic development as a first step in the federation of Europe, and will change the destinies of those regions which have long been devoted to the manufacture of munitions of war, of which they have been the most constant victims.
The solidarity in production thus established will make it plain that any war between France and Germany becomes not merely unthinkable, but materially impossible. The setting up of this powerful productive unit, open to all countries willing to take part and bound ultimately to provide all the member countries with the basic elements of industrial production on the same terms, will lay a true foundation for their economic unification.
This production will be offered to the world as a whole without distinction or exception, with the aim of contributing to raising living standards and to promoting peaceful achievements. With increased resources Europe will be able to pursue the achievement of one of its essential tasks, namely, the development of the African continent. In this way, there will be realised simply and speedily that fusion of interest which is indispensable to the establishment of a common economic system; it may be the leaven from which may grow a wider and deeper community between countries long opposed to one another by sanguinary divisions.
By pooling basic production and by instituting a new High Authority, whose decisions will bind France, Germany and other member countries, this proposal will lead to the realization of the first concrete foundation of a European federation indispensable to the preservation of peace.
To promote the realization of the objectives defined, the French Government is ready to open negotiations on the following bases.
The task with which this common High Authority will be charged will be that of securing in the shortest possible time the modernization of production and the improvement of its quality; the supply of coal and steel on identical terms to the French and German markets, as well as to the markets of other member countries; the development in common of exports to other countries; the equalization and improvement of the living conditions of workers in these industries.
To achieve these objectives, starting from the very different conditions in which the production of member countries is at present situated, it is proposed that certain transitional measures should be instituted, such as the application of a production and investment plan, the establishment of compensating machinery for equating prices, and the creation of a restructuring fund to facilitate the rationalization of production. The movement of coal and steel between member countries will immediately be freed from all customs duty, and will not be affected by differential transport rates. Conditions will gradually be created which will spontaneously provide for the more rational distribution of production at the highest level of productivity.
In contrast to international cartels, which tend to impose restrictive practices on distribution and the exploitation of national markets, and to maintain high profits, the organization will ensure the fusion of markets and the expansion of production.
The essential principles and undertakings defined above will be the subject of a treaty signed between the States and submitted for the ratification of their parliaments. The negotiations required to settle details of applications will be undertaken with the help of an arbitrator appointed by common agreement. He will be entrusted with the task of seeing that the agreements reached conform with the principles laid down, and, in the event of a deadlock, he will decide what solution is to be adopted.
The common High Authority entrusted with the management of the scheme will be composed of independent persons appointed by the governments, giving equal representation. A chairman will be chosen by common agreement between the governments. The Authority's decisions will be enforceable in France, Germany and other member countries. Appropriate measures will be provided for means of appeal against the decisions of the Authority.
A representative of the United Nations will be accredited to the Authority, and will be instructed to make a public report to the United Nations twice yearly, giving an account of the working of the new organization, particularly as concerns the safeguarding of its objectives.
The institution of the High Authority will in no way prejudge the methods of ownership of enterprises. In the exercise of its functions, the common High Authority will take into account the powers conferred upon the International Ruhr Authority and the obligations of all kinds imposed upon Germany, so long as these remain in force."
 




01 abril 2013

Le Sacre du Printemps, 1913...

Les Danseuses
(photo: http://en.wikipedia.org/wiki/File:RiteofSpringDancers.jpg


Le Sacre du Printemps
(compositeur Igor Stravinsky, chorégraphie de Vaslav Nijinski et de décors et costumes de Nicholas Roerich; premiére au Théâtre des Champs-Élysées le 29 mai 1913; ballet: http://www.youtube.com/watch?v=ZGNbULNCiwQ)



01 março 2013

John Maynard Keynes (1883-1946)


John Maynard Keynes and Lydia Lopokova by William Roberts, 1932, National Portrait Gallery, London (http://www.npg.si.edu/exhibit/britons/briton14.htm)

The General Theory of Employment, Interest and Money by John Maynard Keynes (http://www.econlib.org/library/Enc/bios/Keynes.html), 1935: http://cas.umkc.edu/economics/people/facultyPages/kregel/courses/econ645/Winter2011/GeneralTheory.pdf

"This book is chiefly addressed to my fellow economists. I hope that it will be intelligible to others. But its main purpose is to deal with difficult questions of theory, and only in the second place with the applications of this theory to practice. For if orthodox economics is at fault, the error is to be found not in the superstructure, which has been erected with great care for logical consistency, but in a lack of clearness and of generality in the pre misses. Thus I cannot achieve my object of persuading economists to re-examine critically certain of their basic assumptions except by a highly abstract argument and also by much controversy. I wish there could have been less of the latter. But I have thought it important, not only to explain my own point of view, but also to show in what respects it departs from the prevailing theory. Those, who are strongly wedded to what I shall call 'the classical theory', will fluctuate, I expect, between a belief that I am quite wrong and a belief that I am saying nothing new. It is for others to determine if either of these or the third alternative is right. My controversial passages are aimed at providing some material for an answer; and I must ask forgiveness if, in the pursuit of sharp distinctions, my controversy is itself too keen. I myself held with conviction for many years the theories which I now attack, and I am not, I think, ignorant of their strong points.

The matters at issue are of an importance which cannot be exaggerated. But, if my explanations are right, it is my fellow economists, not the general public, whom I must first convince. At this stage of the argument the general public, though welcome at the debate, are only eavesdroppers at an attempt by an economist to bring to an issue the deep divergences of opinion between fellow economists which have for the time being almost destroyed the practical influence of economic theory, and will, until they are resolved, continue to do so."
(John Maynard Keynes, 1935)

01 fevereiro 2013

Mãe Poeta

Nasceste a 20, o acaso registou como teu o dia 27 mas fevereiro será, eternamente, o teu mês! O mês que acolhe o dia que transforma os anos em anos bissextos, anos de que nunca gostaste... anos de que eu passei a não gostar... Mivone Linda!




01 dezembro 2012

Noémia

"Poor children eating at the Day Care Nursery while their mothers work", Portugal, 1940, by Bernard Hoffman in http://images.google.com/hosted/life/b5fc3f4f38e2113b.html

Chamava-se Noémia,
Nove anos de idade
Cheios de maturidade.

Vivia do outro lado
Da minha rua,
Do meu mundo
Mas a casa de paredes nuas
Tinha um encanto profundo.

Era para mim um espanto
Vê-la subir para um banco
Para chegar à panela
E fazer nela
Com rapidez e perfeição
Uma sopa de feijão
Que distribuía por seis tigelas
Uma para mim, outra para ela
Quatro para os irmãos.

No ano primeiro
Da nossa amizade
Tinha eu sete anos de idade
Por alturas do Natal
Andava num alvoroço
Apanhando musgo no quintal
Nos muros, à roda do poço
Para enfeitar o presépio
No largo parapeito
Da janela de granito
Tendo por fundo
O céu, o infinito.

O presépio com a estrela
Tão grande e tão bela
A cabana pobrezinha
Onde o Menino despido
Apenas era aquecido
Pelo bafo dos animais
Como se não tivesse pais
Para O aquecer
Para O proteger.

Quis que a Noémia O visse
E a sua prenda pedisse.

Com um sorriso triste
Respondeu, conformada:
- Na casa dos pobres
O Menino Jesus não deixa nada.

Não sei descrever o que senti
Mas qualquer coisa se quebrou
Dentro de mim
Se estilhaçou
No meu peito de criança
Numa angústia, numa desconfiança.

Não fomos à Missa do Galo
Pois nevara fortemente.
Mas antes de abrirmos os presentes,
O meu Pai pegou no Menino
Deu-O a beijar a toda a gente.

Tinha lágrimas nos olhos
Mas a voz não tremia
Quando meu Pai fitei
Para, firme, declarar:
— Estou zangada com Ele,
Não O quero beijar.

O meu Pai não me ralhou
E o Menino Jesus
Nas palhinhas deitou.

Mas quis saber a razão
Por que estava tão zangada
Com o Menino Jesus
Fonte de toda a esperança
Todo amor, todo bondade
Tão amigo das crianças.

- Não é nada — afirmei
Segura da minha verdade —.
A Noémia não faz maldades
Não tem tempo para brincar
Passa os dias a trabalhar
Nem sequer pode estudar.
E porque são pobrezinhos
O Menino Jesus
Nada deixa nos sapatinhos.

Foi nessa noite linda
Que o meu Pai me explicou
Com uma ternura infinda
Que este Natal de presentes
De vaidades e consumismo
Não é o Natal de Jesus.
Dele são a paz e a luz.
Dos homens, o materialismo.

Mas como nesse Natal
A Noémia afinal
Teve uma boneca
E houve presentes
Para toda a gente
Na casa do outro lado
Da minha rua
Dei por mim a perguntar:
— Foi por eu me zangar?

Este Natal estou triste
Triste e até desesperada
Com tudo quanto vejo
E não desejo.
O que irá acontecer
Se ao Menino disser
Que estou muito zangada?


Quem sabe se vai surgir
Um milénio de amor
Um mundo novo
Com crianças a sorrir.


Talvez nunca mais veja
Crianças carbonizadas
Em barracas desumanizadas.


Talvez nunca mais veja
Crianças abandonadas
Nos vãos das escadas
Nos passeios das ruas
Tendo por coberta a lua
Jornais velhos e cartão
Tratadas abaixo de cão
(Metáfora já sem valor
Pois o novo significado
De uma vida abjecta
Vai ser vida de criança
Onde não mora o amor
Sem lugar para a esperança).

Talvez nunca mais veja
Os meninos desta Terra
Na droga
Na prostituição
Cheios de fome
De carinho e de pão.
Pequenos Meninos Jesus
Que vão ser espancados
Cuspidos
Escarnecidos
Que vão ser outros Cristos
— não santificados —
Que vão ser crucificados
Por culpa dos nossos pecados.


Se a minha zanga
Para alguma coisa prestar
Se puder quebrar
Esta inércia em que vivemos
Este egoísmo que temos
A pena hipócrita que sentimos
— apenas e só —
Quando as imagens vemos.


Se o meu grito
Eco encontrar
E se multiplicar
Num clamor
Talvez ele possa chegar
Ao coração dos homens
E despertar o amor.

Ai, meu Menino Jesus
Pequeno raio de luz
Não sou a criança inocente
Que Contigo se zangou
Mas sinto-me impotente
Não sei a quem me queixar.
A quem hei-de implorar
Que as Noémias deste mundo
Tenham pão, um lar
E bonecas para brincar?


Ai, meu Menino Jesus
Meu doce raio de luz
Tão pobre
Tão despido
Tão desvalido:
 — Estou zangada Contigo!

 
Maria Ivone Vairinho

01 novembro 2012

Serra da Estrela

Fotografia de Hélio Cristovão em http://www.heliocristovao.net/blog

Meu corpo foi talhado em granito
Meus pés plantados em ribeiros
Que me banham o corpo inteiro.

Nos olhos tenho espaço infinito
Que rasga a linha do horizonte
Que se perde no mar, nos montes.

No meu véu branco de esponsais
Brotam zimbro, mimosas, tojais.
No verde selvagem dos pinheirais
Meu manto de rainha foi tecido
Com urzes e rosmaninho entretecido.

Meu vestido verde bordado
Com rubra barra de papoilas
Espigas doiradas
De trigo e cevada
Desce pelas encostas escarpadas.

No ventre fecundo
Guardo mananciais
De lava ardente e minerais
Que mostram seu esplendor
Nos picos das Penhas Douradas
Quando o sol enamorado
Em manhãs de ouro matizadas
Crepúsculos avermelhados
Me confessa o seu amor.

Prendem-se minhas mãos nas fráguas
Delas jorram cristalinas águas.

Águas de lava arrefecida
Fontes de saúde e vida
Irrompendo em borbotões
Tecendo rendas delicadas
P'las quebradas dos Covões.

Derretem neves do Inverno
E loucas vão mergulhar
No Poço que é do Inferno.
A água das neves, gelada
É de novo transformada
Pela lava incandescente
Rasga a terra com fragor
Entre nuvens de vapor
Nas termas e nas nascentes.

Sou feita de neve e de granito
Nos olhos tenho espaço infinito
Do verde selvagem dos pinheirais
No ventre fecundo mananciais
De lava ardente e geladas águas
Que jorram cantando pelas fráguas.

Maria Ivone Vairinho
(Livro do amor e da saudade)

02 outubro 2012

Abraça-me apenas...


Covilhã, Capela de São João de Malta, 02 de outubro de 1961


ABRAÇA-ME APENAS
(Para meu Marido)

Abraça-me apenas
Com toda a ternura
Que teus braços sejam
Cadeia segura.


Deixa que assim
Deste meu jeito
A minha cabeça
Repouse no teu peito.


Aqui estou protegida
Deixemos lá fora a vida
Com seus ódios e rancor.
Tudo é paz, serenidade
Águas mansas, tranquilidade
Abraça-me apenas, meu amor.

Maria Ivone Vairinho

01 setembro 2012

A clara luz do dia...

António Lobo Antunes
1 de setembro de 1942
(http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=302)


Vou ter de viver os próximos tempos em condições muito duras que não dependem de mim. Ser uma testemunha passiva do que se passa comigo, nada poder fazer para alterar seja o que for, desespera-me. Quando as coisas dependem da minha vontade eu luto. Quando não dependem fico reduzido a um espectador inútil, sofrendo o que se passa sem poder intervir, e a minha indignação e a minha angústia crescem. Aguenta-te. Mas é difícil aguentar passivamente. Noites sobressaltadas, despertares cansados, a raiva da injustiça. Vou arranjando forças para continuar a escrever mas esta pequena coisa dentro de mim tenta destruir-me a energia. Sempre aceitei mal o que vem de fora da minha vontade, sempre aceitei mal o que me é imposto autoritariamente, sem discussão nem razões. Aceito, até certo ponto, a incerteza do futuro, não aceito que essa incerteza não me consinta uma margem de liberdade. A minha obra não está completa, a minha vida não está completa, necessito de tempo ainda, dessa espécie de tumultuosa paz de que sou feito. E sinto-me sozinho nisto, com as pessoas que me são próximas a assistirem de fora, impotentes. Navego à deriva, porque me tiraram o leme. A minha existência é comezinha e sem importância: na minha opinião o meu trabalho não o é. Se me devolvessem a paz e a esperança em troca dos livros que escrevi não a aceitava. Orgulho-me deles, custaram-me a alma. Que silêncio nesta casa, em frente da minha dor, cuja presença me espanta. Não me faço perguntas nem encontro respostas. Devo esperar. E quando se acabar, a espera? Palavras, coisas, pessoas rodopiam-me em torno, grandes pássaros negros passam sobre mim, o meu corpo é um conjunto de articulações sem sentido. Os outros, os que me falam, seres quase sem nexo, separados de mim por um muro que não consigo transpor. Porém não oiço o que quero nem digo o que se me arrasta no fundo da alma. Fico num silêncio amargo, cheio de gritos mudos, zanga, insultos. Dentro em pouco os dados estarão lançados: e depois?
A minha principal sensação é de estranheza, de espanto. O mundo, à minha volta, alterou-se, e eu com ele. Hoje, por exemplo, está um dia de sol, e é apenas chuva que vejo. Muitos dos meus amigos morreram já, e dou-me conta, na carne, da falta que me fazem. Ernesto, Zé, Acácio, vários outros. Sinto o coração a bater, compassado, lento. Por enquanto acompanha-me, estamos juntos. Não quero aborrecer ninguém, tomar o tempo de ninguém, ser incómodo. As horas adquiriram, sem me dar conta, uma rapidez vertiginosa. Há pouco o meu primo Zé Maria desapareceu com a mais admirável das coragens. Receio não a ter. A minha cobardia assusta-me. A indiferença dos estranhos assusta-me. A mudez do telefone assusta-me. Ninguém me garante que isto é mentira e sinto-me cercado de vazio, um oco interno onde fervem pavores. Sou eu o que continua, ou o que desconheço o que seja no meu lugar? Tudo o que sei é que, dentro em pouco estarei de novo no bojo de uma máquina sem alma, terrivelmente objectiva. A máquina dirá às pessoas, as pessoas dir-me-ão a mim. E quem é o mim que as vai ouvir?
Para já oiço o monótono zumbido do mundo. Mais nada. E espero. É tremendo esperar sem conhecer a resposta, sem fazer a mínima ideia da resposta. Passei por isso em África, passei por isso há anos. Julgava ter terminado. Voltou.
E o que digo o que interessa às pessoas? O que pode interessar aos outros? A solidão cerca-me por todos os lados, não há uma fraçãozinha que se sinta acompanhada: podem estar por fora, a olhar. Não estão por dentro, a viver. Escrevo este texto como quem tenta não se afogar, sabendo que se afogará seja como for. É uma questão de tempo e o tempo é cruel.
- Cá me vou entretendo com as minhas mazelas
dizia-me um homem outro dia. E que impartilhável sofrimento no interior destas palavras. Depois apertámos a mão e foi-se embora, levando as mazelas com ele. Poderei ir-me embora também? O Sol cresceu, tudo está cheio de luz. Que absurdo isto que me sucede no meio de tanta luz. Lembro-me de Van Gogh a morrer num quarto de hospital depois dos tiros. Na parede aquele quadro dos corvos num campo de trigo. A enfermeira perguntou-lhe o que significava o quadro.
- É a morte
disse ele. A enfermeira voltou a olhar para a tela. Comentou
- Não parece uma morte triste
e o pintor respondeu
- E não é. Passa-se à clara luz do dia.
Que, ao menos, quando chegar o meu momento, tudo se passe à clara luz do dia. Comigo a ver, pela janela, as nuvens lá fora, deslizando, uma a uma, para leste. E eu, deitado numa cama qualquer, a partir com elas.
 
(António Lobo Antunes, Visão, 8 de março de 2012, http://visao.sapo.pt/a-clara-luz-do-dia=f651213) 

01 agosto 2012

Sheldon Mirowitz




 Sheldon Mirowitz at Berklee College of Music
(
http://www.berklee.edu/faculty/detail/sheldon-mirowitz)
Sheldon Mirowitz biography:
http://www.sheldonmirowitz.com/bio.htm
Sheldon Mirowitz's credits: http://www.sheldonmirowitz.com/credits.htm

 

The Nazi Officer's Wife, 2003

(documentary directed by Liz Garbus; original music by Sheldon Mirowitz), based on "The Nazi Officer's Wife - How One Jewish Woman Survived the Holocaust", 1999 by Edith H. Beer (
http://www.harpercollins.com/books/Nazi-Officers-Wife-Edith-H-Beer/?isbn=9780688177768), see trailer: http://www.videodetective.com/movies/the-nazi-officers-wife/227256
  

 


Piano Solos, 1992
(August 23, 1962 composed by Sheldon Mirowitz)

http://www.allmusic.com/album/piano-solos-mw0000089037


01 junho 2012

Os Lusíadas

 
(Camões lendo ´Os Lusíadas´ a D. Sebastião, imagem em http://1.bp.blogspot.com/-VO-na5drngA/TwdX9ZBiaXI/AAAAAAAAAow/bAKPfrJVzt4/s1600/camoes.jpg)


"As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
(…)
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco oriental, e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo rio;
Inclinai por um pouco a majestade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno:
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de til gente.
(…)
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.
Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes liões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolátras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo.
Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos mandados,
Sem dar reposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco, e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.
Favorecei-os logo, e alegrai-os
Com a presença e leda humanidade;
De rigorosas leis desalivai-os,
Que assi se abre o caminho à santidade.
Os mais exprimentados levantai-os,
Se, com a experiência, têm bondade
Pera vosso conselho, pois que sabem
O como, o quando, e onde as cousas cabem.
Todos favorecei em seus ofícios,
Segundo têm das vidas o talento;
Tenham Religiosos exercícios
De rogarem, por vosso regimento,
Com jejuns, disciplina, pelos vícios
Comuns; toda ambição terão por vento,
Que o bom Religioso verdadeiro
Glória vã não pretende nem dinheiro.
Os Cavaleiros tende em muita estima,
Pois com seu sangue intrépido e fervente
Estendem não sòmente a Lei de cima,
Mas inda vosso Império preminente.
Pois aqueles que a tão remoto clima
Vos vão servir, com passo diligente,
Dous inimigos vencem: uns, os vivos,
E (o que é mais) os trabalhos excessivos.
Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d'exprimentados
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe.
Mais em particular o experto sabe. 
(…)
Luis Vaz de Camões, 1572, ´Os Lusíadas´ (ver versão original em http://purl.pt/1/2/cam-3-p_PDF/cam-3-p_PDF_24-C-R0150/cam-3-p_0000_capa-capa_t24-C-R0150.pdf)